Desvendando o Financiamento de Games: O Guia Definitivo da Mito Games para Alavancar Projetos com Editais e Leis de Incentivo

Como a Mito Games Está Liderando uma Revolução no Financiamento de Jogos Brasileiros

Em um mercado global de games que movimenta bilhões de dólares, os estúdios brasileiros enfrentam um desafio primordial: como financiar seus projetos de forma sustentável. A resposta, como demonstra a trajetória da capixaba Mito Games, pode estar muito mais perto do que imaginamos, escondida em editais públicos e leis de incentivo cultural. Em uma entrevista exclusiva ao Portal VagaNerd, Marcelo Herzog, fundador da Mito Games, não apenas detalhou a bem-sucedida jornada de sua empresa, mas destacou um movimento colaborativo para difundir esse conhecimento por todo o ecossistema de desenvolvimento nacional.

A história da Mito Games começa, como a de muitos estúdios, com a necessidade de gerar fluxo de caixa. “A gente sempre teve a visão estratégica e o desejo de chegar no mercado de entretenimento, mas nós começamos com jogos educativos”, relembra Herzog. O primeiro grande produto foi um jogo focado no ENEM, que deu visibilidade à empresa e a levou a ser procurada para desenvolver aplicativos, softwares e jogos corporativos. “Era aquela história: a gente precisava fazer fluxo de caixa, não dava para negar.”

Esse período de “farinha pouca, meu pirão primeiro” foi crucial, mas a virada de chave veio com a entrada no universo dos editais. Herzog é enfático ao dizer que a aprovação no primeiro edital não é imediata. “Uma das coisas que pesa é o portfólio. Quando você começa a empresa, você ainda não tem um produto para mostrar e já perde ponto na largada.” A solução? Capacitação e persistência.

A Arte de Escrever um Bom Projeto

Herzog participou de um curso de elaboração de projetos oferecido por uma incubadora, mas ressalta que a expertise veio com a prática. “Você não sai do curso já ganhando edital. Você começa a cada edital que escreve a melhorar a sua capacidade.” Ele usa uma analogia poderosa: “Tem uma história de uma carta do presidente Lincoln… ele fala ‘desculpe pelo tamanho do texto, tive pouco tempo para escrever’. Para você ser conciso, resumir e conseguir passar toda a informação de forma eficiente, você demanda tempo. É uma habilidade complexa.”

Essa habilidade foi refinada e levou a Mito Games a ser aprovada em editais fundamentais para seu crescimento, como os da FAPES e da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), mesmo quando estes não eram especificamente para games. Durante a pandemia, a empresa identificou uma brecha em um edital de iniciativas contra a COVID-19 e teve aprovado o jogo educativo “O Mundo de Augusto Contra o Coronavírus”, captando R$ 334 mil.

Equipe da Mito Games no Estande de TUPI: A Lenda de Arariboia na BGS 2025

O Marco Histórico: A Lei Rouanet e a Instrução Normativa Nº 11

Um dos pontos altos da entrevista foi a explicação de Herzog sobre a mudança mais significativa recentemente: a Instrução Normativa Nº 11 de 2024, que incluiu os jogos eletrônicos de forma mais clara no guarda-chuva do audiovisual na Lei Rouanet.

“Antes, não tinha a possibilidade da empresa patrocinadora abater 100% do valor doado. Agora, com o Artigo 18, isso é possível”, explica Herzog. De forma simplificada, se uma empresa patrocina R$ 100 mil em um jogo via Lei Rouanet, ela pode abater integralmente esse valor do seu imposto de renda devido, tornando o investimento extremamente vantajoso.

Herzog alerta, no entanto, para um detalhe burocrático crucial: o CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) da empresa desenvolvedora deve incluir a fabricação de jogos eletrônicos. “Quando eu escrevi o projeto, recebi uma diligência porque meu CNAE não tinha isso. Tive que correr e fazer uma alteração contratual em 10 dias úteis.” É um aviso valioso para outras empresas evitarem o mesmo susto.

Do Horizon Europe ao Interior do Brasil: A Visão Expansiva da Mito

A capacidade da Mito Games em captar recursos ganhou ares internacionais. A empresa se tornou a primeira do Brasil a ser aprovada no Horizon Europe, o principal programa de pesquisa e inovação da União Europeia. “A nossa filial lá na Bélgica foi aprovada junto com outras empresas de nove países… e a Mito foi a primeira empresa do Brasil que foi aprovada lá e conseguiu receber por aqui”, comemora Herzog.

Mas a visão de Herzog vai além do sucesso próprio. Ele enxerga as outras desenvolvedoras não como concorrentes, mas como “concomitantes”. “Não se faz um setor, um segmento industrial, com uma, duas, três empresas… Para você pleitear políticas públicas de fomento, você precisa de uma expressividade em números.”

É por isso que a Mito Games, em parceria com a associação Game Dev ES, promove reuniões e mentorias para ajudar outras empresas a entenderem e se inscreverem em editais. “A gente faz leitura do edital em conjunto… o que que é importante, o que que não pode errar para não ser desclassificado.” Para Herzog, é a “corrente do bem” do empreendedorismo. “Empresas maiores me ajudaram quando eu comecei. Como eu retribuo? Contribuindo com empresas menores que estão precisando agora.”

O Futuro: Retendo Talentos e Construindo uma Indústria Nacional

Herzog acredita piamente no potencial do Brasil como potência criativa de games. “O Brasil hoje figura entre os cinco maiores consumidores. A gente quer que o Brasil figure também entre os cinco maiores produtores de jogos do mundo.” Ele vê a indústria de jogos como uma oportunidade de desenvolvimento econômico limpo e descentralizado. “Você pode, numa cidade de 50 mil habitantes, fazer cursos de capacitação e fazer com que esses profissionais trabalhem remotamente.”

O caminho, segundo ele, passa por reter os talentos que hoje são atraídos por oportunidades no exterior e por uma grande sensibilização. “A gente pretende fazer ações com alunos do ensino médio sobre a possibilidade de uma carreira na indústria de jogos… Você mexe pelo emocional do aluno para ele ter força de vontade para fazer uma faculdade e depois trabalhar com jogos.”

O Grande Chamado: A Hora é Agora

O conselho de Marcelo Herzog para desenvolvedores é direto: abram a mente. “A galera de jogos é claro: ‘Quero fazer um game de entretenimento’. À vezes, abrir um pouco a mente para conseguir financiar o sonho é necessário.”

Com as portas da Lei Rouanet e de diversos editais estaduais e nacionais finalmente abertas, a receita para o sucesso parece clara: qualificação para escrever projetos, persistência para não desistir nas primeiras negativas e, acima de tudo, uma visão colaborativa de que o sucesso de um fortalece a todos. A Mito Games não está apenas desenvolvendo jogos; está, nas palavras de seu fundador, ajudando a construir as fundações da indústria brasileira de games.


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